'Massacre de Paraisópolis' faz 6 anos; Justiça decide em março se leva a júri 12 PMs acusados de matar 9 jovens em baile funk
01/12/2025
(Foto: Reprodução) ‘Paraisópolis: 3 atos, 9 vidas’: filme quer mostrar que ação em baile funk foi massacre
A Justiça de São Paulo decidirá a partir de março de 2026 se vai levar a júri popular os 12 policiais militares acusados por matar nove jovens e ferir 12 pessoas durante um baile funk em Paraisópolis, comunidade da Zona sul da capital paulista.
O caso, que ficou conhecido como "Massacre de Paraisópolis", completa seis anos nesta segunda-feira (1º). Ele ocorreu em 1º de dezembro de 2019. Desde então, nenhum dos réus foi julgado pelos crimes. Eles respondem em liberdade.
O juiz Antonio Carlos Pontes de Souza, da 1ª Vara do Júri do Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste, aguarda as manifestações das partes envolvidas no processo para poder se manifestar. O prazo termina após os três primeiros meses do próximo ano.
Pela lei, o magistrado só decidirá algo sobre o destino dos acusados depois que o Ministério Público (MP), assistentes da acusação e defesa deles se pronunciarem. O juiz poderá pronunciar os agentes da Polícia Militar (PM) para irem a julgamento, impronunciá-los ou absolvê-los sumariamente, sem que sejam julgados.
PMs respondem por homicídio
Jovens mortos em Paraisópolis
Arte/TV Globo
Os agentes da Polícia Militar (PM) são acusados pelo MP pelos crimes de homicídio por dolo eventual contra nove vítimas (por terem assumido o risco de matá-las quando as encurralaram num beco em Paraisópolis) e por lesão corporal na mesma modalidade eventual diante de 12 sobreviventes (por assumirem o risco de feri-las).
Outra possibilidade é a de que o magistrado reclassifique os crimes como homicídio e lesão corporal culposos (sem intenção de matar ou ferir). Essa, aliás, foi a conclusão da Polícia Civil, que investigou o caso. O Ministério Público discordou e entendeu que houve dolo.
Todos os PMs réus já foram interrogados neste ano pela Justiça sob a acusação de terem matado e ferido pessoas durante a operação em Paraisópolis (saiba mais abaixo quem são os acusados e as vítimas).
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Vídeos mostram agressões
MP-SP denuncia PMs pela morte de nove pessoas em Paraisópolis
Segundo a denúncia do Ministério Público, os PMs entraram em Paraisópolis para dispersar mais de 5 mil pessoas que participavam naquela madrugada do tradicional Baile da DZ7 em três ruas da periferia da comunidade: Rodolfo Lutze, Iratinga e Ernest Renan. A promotora do caso é Luciana Jordão.
Usando viaturas, motos e andando a pé, os policiais encurralaram as vítimas num beco sem saída, provocando as mortes de nove jovens. Nenhum dos mortos morava no bairro.
Vídeos gravados por moradores e compartilhados nas redes sociais mostram policiais agredindo frequentadores da festa. Ainda de acordo com a denúncia da Promotoria, durante a dispersão do público, os PMs deram golpes de cassetetes, garrafas, bastões de ferro e lançaram gás de pimenta na população. Um dos policiais atirou um morteiro contra a multidão.
Depois os PMs jogaram bombas em direção às vítimas. O MP informa também que os PMs fecharam as vias de acesso ao baile e impediram os frequentadores de deixar uma viela da comunidade_ conhecida como Viela do Louro. Depois passaram a agredir os jovens, provocando tumulto.
Muitas pessoas não conseguiram sair do beco e morreram sufocadas, prensadas umas às outras.
Laudo da perícia da Polícia Técnico-Científica confirmou que a maioria delas morreu asfixiada por sufocação indireta. Segundo o exame necroscópico, oito dos jovens morreram por asfixia e um por traumatismo.
Além da condenação, o MP requer a fixação de valor mínimo para reparação dos danos materiais e morais causados pelas infrações.
De acordo com a Defensoria Pública, as famílias das vítimas já foram indenizadas pelos assassinatos cometidos pelos PMs. Os pagamentos ocorreram em 2021 por determinação do governo de São Paulo após representação do órgão.
PMs alegam mortes acidentais
Protesto de moradores nesta quarta-feira (1), no Centro de São Paulo, em lembrança aos dois anos da morte de 9 jovens de Paraisópolis.
ALLISON SALES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
As defesas dos PMs dão outra versão para a ocorrência policial que deixou mortos e feridos em Paraisópolis.
De maneira geral, os policiais alegaram que perseguiam dois suspeitos de roubo que estavam numa moto _eles nunca foram identificados ou presos. A dupla teria entrado no baile funk e atirado na direção das viaturas. Isso provocou pânico entre os frequentadores, que correram para a Viela do Louro onde teriam tropeçado uns sobre os outros. O lugar não tem saída.
Segundo os policiais, houve resistência dos frequentadores, que teriam agredido os agentes com paus, pedras e garrafadas. Os policiais disseram que, por segurança, foi preciso usar cassetetes, balas de borracha, bombas de gás e de efeito moral para dispersar a multidão que participava do evento.
Em suas defesas, os PMs disseram ainda que as vítimas morreram acidentalmente ao serem pisoteadas após um tumulto provocado pelos bandidos.
O processo que apura as causas e eventuais responsabilidades pelas mortes e feridos já teve oito audiências realizadas na Justiça. Elas fazem parte da fase de instrução, que ocorre para saber se há indícios de que os réus cometeram crimes. Na audiência de instrução são ouvidos depoimentos das testemunhas de defesa e acusação.
A última etapa foi em novembro, quando os 12 réus foram interrogados no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste. Todos eles compareceram às sessões, mas só um dos acusados foi ouvido _uma policial mulher. Os demais 11 PMs acusados, todos homens, ficaram em silêncio.
"Na próxima etapa, as partes apresentarão suas alegações finais por escrito e, somente depois dessa etapa é que será decidido se os réus serão submetidos ou não a julgamento pelo Tribunal do Júri", informa trecho da nota do Tribunal de Justiça (TJ).
Quem são os 12 PMs
Justiça decide se PMs do Massacre de Paraisópolis vão a júri popular
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), 11 PMs réus no caso do Massacre de Paraisópolis, "foram transferidos e ocupam funções compatíveis com seus graus hierárquicos".
Somente um dos PMs acusados não continua mais na corporação: foi expulso por ter cometido uma infração disciplinar grave que não tem relação com as mortes dos nove jovens. A Polícia Militar não informou qual foi a irregularidade.
O g1 tenta localizar as defesas dos réus para comentarem o assunto.
Veja abaixo quem são os 12 réus acusados de envolvimento nas mortes das vítimas em Paraisópolis e por quais crimes respondem.
tenente Aline Ferreira Inácio - acusada de homicídio
subtenente Leandro Nonato - homicídio
sargento João Carlos Messias Miron - homicídio
cabo Paulo Roberto do Nascimento Severo - homicídio
Luís Henrique dos Santos Quero - homicídio (ex-cabo da PM; foi expulso da corporação por outros motivos não informados)
cabo Gabriel Luís de Oliveira - homicídio
soldado Anderson da Silva Guilherme - homicídio
soldado Marcelo Viana de Andrade - homicídio
soldado Mateus Augusto Teixeira - homicídio
soldado Rodrigo Almeida Silva Lima - homicídio
soldado José Joaquim Sampaio - homicídio
soldado Marcos Vinicius Silva Costa - homicídio
Quem são os 9 mortos
Familiares das vítimas do "Massacre de Paraisópolis" fazem manifestação por justiça em frente ao Fórum Criminal Ministro Mario Guimarães, na Barra Funda, Zona Oeste de SP
WAGNER VILAS/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Os 12 réus são acusados de participar dos assassinatos de nove pessoas; veja quem são as vítimas e como morreram:
Mateus dos Santos Costa, 23 anos, morreu por traumatismo
Gustavo Xavier,14 anos, morreu por asfixia
Marcos Paulo Oliveira, 16 anos, morreu por asfixia
Gabriel Rogério de Moraes, 20 anos, morreu por asfixia
Eduardo Silva, 21 anos, morreu por asfixia
Denys Henrique Quirino, 16 anos, morreu por asfixia
Dennys Guilherme dos Santos, 16 anos, morreu por asfixia
Luara Victoria de Oliveira, 18 anos, morreu por asfixia
Bruno Gabriel dos Santos, 22 anos, morreu por asfixia
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